“Ser autista não é o mesmo que ter deficiência intelectual.”
“Autistas não falantes são inteligentes.”
“Quando autistas não falantes aprendem a digitar, eles podem
provar sua inteligência. ”
Todas as afirmações
acima são verdadeiras, mas elas são também incompletas. Declarações como essas
são suposições que não ajudam a fazer do mundo um lugar mais respeitoso com
todas as pessoas deficientes. Elas
são incompletas porque alguns Autistas não falantes podem também ser deficientes
intelectuais. Portanto, algumas pessoas (Humanos) autistas, podem ser Autistas E intelectualmente deficientes; pois enquanto algumas pessoas que digitam podem mostrar que as
suposições sobre seu QI estavam erradas, ter capacidade de digitar é uma das
formas de fazer com que neuróticos nos entendam com mais facilidade; é apenas
mais uma forma para nos comunicarmos.
Eu sei como é doloroso quando alguém pressupõe nossa incompetência, quando nos chamam de
“retardados” apenas porque não podemos falar, porque muitas vezes nos
movimentamos de forma diferente ou porque parece que não estamos prestando
atenção. Eu entendo como podemos ficar ansiosos por mostrar ao mundo que temos
pensamentos complexos, que entendemos as coisas e que temos sentimentos e
opiniões.
Eu era e ainda estou, sou ansiosa por tudo isso. A inteligência é um conceito socialmente
construído. Não
porque eu queira ser vista como “inteligente”, mas porque eu
quero ser ouvida, mesmo que minhas opiniões não sejam baseadas no
intelecto que para muitos eu aparento ter. Sinto alguma frustração quando vejo
um colega digitador dizer que pode finalmente “provar” não ser deficiente
intelectual. É a mesma frustração que sinto quando alguém me diz que eu,
“claramente”, não sou intelectualmente deficiente.
A frustração não é por eu não querer celebrar os êxitos dos meus
pares. Eu os celebro. Eu sei que eles trabalharam duro para alcançar seus
objetivos. A frustração é porque “inteligência”, e provar que somos
inteligentes, não deveria ser o principal motivo para exigirmos nossos
direitos, para exigirmos respeito, para exigir que sejamos tratados
com dignidade. Quando nos concentramos em “inteligência” de uma certa maneira,
arriscamos apoiar conceitos normalizantes de valor e mérito, consequentemente desvalorizando muitos Autistas; Autistas
não falantes e outras pessoas deficientes que não podem ou não querem provar
sua inteligência.
Alguns de nós não nos importamos com esse conceito arbitrário
chamado “inteligência”.
Alguns de nós nunca vai estar interessado em conhecimento
acadêmico. Alguns de nós não vai querer ou ser capaz de ir para uma
universidade, ou mesmo obter um diploma do ensino médio. Alguns de nós queremos
apenas ser ouvidos, mesmo que o que digamos seja percebido como incorreto,
desorganizado ou intelectualmente imaturo. Alguns de nós somos, de fato,
intelectualmente deficientes. A inteligência é um conceito socialmente
construído. Ela aborda a percepção da maioria do que seja desejável. Autistas são neurodivergentes.
A forma como absorvemos e expressamos informações não é típica.
Não somos maioria, não nos enquadramos nos conceitos de “normal” e “desejável”
da maioria.
Definições neurotípicas de
Inteligência e Sucesso
TERAPIA
Eu não quero ser valorizada por
definições de sucesso neurotípicas e não deficientes. Eu não tenho um
doutorado, um diploma universitário ou de ensino médio. Eu não tenho um
emprego. Eu não pago impostos. Ter diplomas, empregos ou ser um contribuinte
são metas dignas para qualquer pessoa que assim as deseje. Mas essas não são as
metas que eu tenho para minha vida. Ainda assim, eu mereço ser valorizada.
Ter diplomas, empregos ou ser um
contribuinte são conquistas, mas são conquistas de acordo com o definido pela
maioria neurótica e não deficiente. Algumas vezes, minha conquista é conseguir
me levantar de manhã. Eu a celebro. É conseguir digitar uma frase. Eu a
celebro. É ser capaz de prestar atenção em um Audi livro. Eu a celebro.
Minhas conquistas nada têm a ver com a
definição de sucesso da maioria. Ter compaixão não requer “inteligência”. Eu me
considero compassiva. Ser sensato não requer “inteligência”. Eu me considero
sensata. Inteligência, assim como definido pela sociedade normalizadora,
não é um requisito para ser um ser humano digno.
Eu não
permito que outros me definam e valorizem de acordo com sua visão do mundo ou
da vida. Eu escrevo para ser ouvida e para desafiar pressupostos. Se você
dissesse que eu sou inteligente, você estaria errado. Se você dissesse que eu
não sou inteligente, você também estaria errado.
Escrito por Amy
Sequenzia - Wal
Amy Sequenzia são uma autora e ativista. Autista
não falante com deficiências múltiplas que escreve sobre direitos dos
deficientes, cidadania e direitos humanos. Ela também escreve poesias. A Amy já
apresentou palestras em várias conferências nos Estados Unidos e outros países
e seu trabalho pode ser visto em livros sobre Autismo e Deficiência.
Ela é
profundamente envolvida com o Movimento da Neurodiversidade e tem sido incisiva
em sua fala sobre direitos e valorização de pessoas deficientes. Amy faz parte
do conselho administrativo da ASAN – Autistic Self Advocacy Network,
uma organização formada por ativistas autistas e também da FAAST (Aliança por
Serviços e Tecnologias Assistivas da Flórida).
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