02 D E A B R I L

quarta-feira, 17 de maio de 2017

AUTISTA, NÃO FALANTE, MAS....

“Ser autista não é o mesmo que ter deficiência intelectual.” “Autistas não falantes são inteligentes.”
“Quando autistas não falantes aprendem a digitar, eles podem provar sua inteligência. ” Todas as afirmações acima são verdadeiras, mas elas são também incompletas. Declarações como essas são suposições que não ajudam a fazer do mundo um lugar mais respeitoso com todas as pessoas deficientes. Elas são incompletas porque alguns Autistas não falantes podem também ser deficientes intelectuais. Portanto, algumas pessoas (Humanos) autistas, podem ser Autistas E intelectualmente deficientes; pois enquanto algumas pessoas que digitam podem mostrar que as suposições sobre seu QI estavam erradas, ter capacidade de digitar é uma das formas de fazer com que neuróticos nos entendam com mais facilidade; é apenas mais uma forma para nos comunicarmos.
Eu sei como é doloroso quando alguém pressupõe nossa incompetência, quando nos chamam de “retardados” apenas porque não podemos falar, porque muitas vezes nos movimentamos de forma diferente ou porque parece que não estamos prestando atenção. Eu entendo como podemos ficar ansiosos por mostrar ao mundo que temos pensamentos complexos, que entendemos as coisas e que temos sentimentos e opiniões.
Eu era e ainda estou, sou ansiosa por tudo isso. A inteligência é um conceito socialmente construído. Não porque eu queira ser vista como “inteligente”, mas porque eu quero ser ouvida, mesmo que minhas opiniões não sejam baseadas no intelecto que para muitos eu aparento ter. Sinto alguma frustração quando vejo um colega digitador dizer que pode finalmente “provar” não ser deficiente intelectual. É a mesma frustração que sinto quando alguém me diz que eu, “claramente”, não sou intelectualmente deficiente.
A frustração não é por eu não querer celebrar os êxitos dos meus pares. Eu os celebro. Eu sei que eles trabalharam duro para alcançar seus objetivos. A frustração é porque “inteligência”, e provar que somos inteligentes, não deveria ser o principal motivo para exigirmos nossos direitos, para exigirmos respeito, para exigir que sejamos tratados com dignidade. Quando nos concentramos em “inteligência” de uma certa maneira, arriscamos apoiar conceitos normalizantes de valor e mérito, consequentemente desvalorizando muitos Autistas; Autistas não falantes e outras pessoas deficientes que não podem ou não querem provar sua inteligência. 
Alguns de nós não nos importamos com esse conceito arbitrário chamado “inteligência”.
Alguns de nós nunca vai estar interessado em conhecimento acadêmico. Alguns de nós não vai querer ou ser capaz de ir para uma universidade, ou mesmo obter um diploma do ensino médio. Alguns de nós queremos apenas ser ouvidos, mesmo que o que digamos seja percebido como incorreto, desorganizado ou intelectualmente imaturo. Alguns de nós somos, de fato, intelectualmente deficientes. A inteligência é um conceito socialmente construído. Ela aborda a percepção da maioria do que seja desejável. Autistas são neurodivergentes.
A forma como absorvemos e expressamos informações não é típica. Não somos maioria, não nos enquadramos nos conceitos de “normal” e “desejável” da maioria.
Definições neurotípicas de Inteligência e Sucesso
TERAPIA
Eu não quero ser valorizada por definições de sucesso neurotípicas e não deficientes. Eu não tenho um doutorado, um diploma universitário ou de ensino médio. Eu não tenho um emprego. Eu não pago impostos. Ter diplomas, empregos ou ser um contribuinte são metas dignas para qualquer pessoa que assim as deseje. Mas essas não são as metas que eu tenho para minha vida. Ainda assim, eu mereço ser valorizada.
Ter diplomas, empregos ou ser um contribuinte são conquistas, mas são conquistas de acordo com o definido pela maioria neurótica e não deficiente. Algumas vezes, minha conquista é conseguir me levantar de manhã. Eu a celebro. É conseguir digitar uma frase. Eu a celebro. É ser capaz de prestar atenção em um Audi livro. Eu a celebro.
Minhas conquistas nada têm a ver com a definição de sucesso da maioria. Ter compaixão não requer “inteligência”. Eu me considero compassiva. Ser sensato não requer “inteligência”. Eu me considero sensata. Inteligência, assim como definido pela sociedade normalizadora, não é um requisito para ser um ser humano digno.
Eu não permito que outros me definam e valorizem de acordo com sua visão do mundo ou da vida. Eu escrevo para ser ouvida e para desafiar pressupostos. Se você dissesse que eu sou inteligente, você estaria errado. Se você dissesse que eu não sou inteligente, você também estaria errado.
Escrito por Amy Sequenzia - Wal
Amy Sequenzia são uma autora e ativista. Autista não falante com deficiências múltiplas que escreve sobre direitos dos deficientes, cidadania e direitos humanos. Ela também escreve poesias. A Amy já apresentou palestras em várias conferências nos Estados Unidos e outros países e seu trabalho pode ser visto em livros sobre Autismo e Deficiência.
Ela é profundamente envolvida com o Movimento da Neurodiversidade e tem sido incisiva em sua fala sobre direitos e valorização de pessoas deficientes. Amy faz parte do conselho administrativo da ASAN – Autistic Self Advocacy Network, uma organização formada por ativistas autistas e também da FAAST (Aliança por Serviços e Tecnologias Assistivas da Flórida).

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