02 D E A B R I L

terça-feira, 25 de setembro de 2012

DEPOIMENTO FAMILIAR. QUANDO FOI QUE A SUA FAMÍLIA DESCOBRIU QUE VOCÊ ERA AUTISTA OU VOCÊ DESCOBRIU POR SI PRÓPRIO (A)?


DESCOBRI QUE SOU AUTISTA. ÀS VEZES SOMENTE ESTOU COM A CERTEZA DE QUE NÃO SEREI A MESMA PESSOA PARA SEMPRE, CREIO EU.
Relatos dedicados a pessoas em idade adulta que se descobriram ou foram diagnosticadas como portadoras do Espectro Autista, que também podem ser chamadas de Asperger, autistas de alto funcionamento, autistas verbais, portadoras de autismo leve, ter sombras ou traços de autismo, ecos autísticos, mas a realidade é que todos são autistas, o transtorno continua sendo na comunicação, na socialização e na imaginação... Só que cada ser humano é um “Universo” então cada um se manifesta do seu jeito.
Como eu descobri?
Respondendo encima destas perguntas:
Muitas vezes você se sente fora de sincronia como os outros? O seu senso de humor é diferente da maioria ou é considerado estranho? Você se esquece de que você está em uma situação social trabalho e/ou sua vida?
Você prefere usar a mesma roupa e/ou comer a mesma comida todos os dias? Você se incomoda quando as pessoas visitam você sem convite? Já fez alguma coisa apenas para descobrir depois que esta coisa não era desejada? Você prefere fazer as coisas sozinhas, mesmo que você disponha da ajuda ou experiência de outros?
Você é tão honesto e sincero que você assume todo mundo também é? Você não tem uma boa distinção daquilo que é a coisa certa a fazer socialmente? Você não aceita graciosamente críticas, correções e ordens? Em conversas, você tem problemas com coisas como sincronia e da reciprocidade? Você tende ser impaciente e/ou impulsivo?
Você tem de interpretá-la as coisas literalmente e/ou responder a perguntas retóricas? Você tem uma visão alternativa do que é atraente no sexo oposto? Se houver uma interrupção, você não pode rapidamente voltar ao que estava fazendo antes? Você tem problemas como início e/ou a finalização de projetos? Já lhe disseram que você tem uma postura ou modo de andar estranho?
Você acha difícil captar as intenções das pessoas? É mais difícil para você manter amigos do que para outras pessoas? Você já teve a sensação de jogar um jogo, fingindo ser como as pessoas à sua volta?
Você já foi intimidado, abusaram ou já tiraram proveito de você? Você acha difícil descobrir com os e comportarem diferentes situações? Você espera que as outras pessoas conheçam seus pensamentos, experiências e opiniões, sem que você os tenha dito a elas? Você tem tendência a dizer coisas que são consideradas socialmente inadequadas?
Você não é bom retornando cortesias sociais e gestos? Você tem interesses imaturos? Muitas vezes as pessoas entendem mal o que você queria dizer? Você fica muito cansado após socializar, e depois necessita se regenerar ficando sozinho? Você geralmente desconhece os limites e regras sociais a menos que lhe sejam claramente enunciados?
Você tende se a procrastinar? Antes de fazer alguma coisa ou irem algum lugar, você precisa ter em mente um planejamento ou cronograma (do que deve ser feito) deforma que você possa se preparar mentalmente primeiro? Você não gosta ou tem dificuldade em esportes de grupo (por exemplo, futebol) ou outras atividades de grupo?
Você tem algumas rotinas ou manias que você precisa seguir? Você tem tendência a expressar seus sentimentos de forma que podem deixar os outros perplexos? Você tende a 'travar' ou ter uma crise nervosa quando estressado ou sobrecarregado?
Meu nome é Grace Caroline. Nasci no ano de 1971, em Curitibanos, no Planalto Serrano do Estado de Santa Catarina, numa pequenina cidade e obviamente muito provinciana. Em 1976, eu já tinha dois irmãozinhos, uma menina e um menino. Atualmente somos uma família com muitos irmãos, consideravelmente um número bem grande de histórias de vida pra contar horas e horas, reunindo todos os presentes. Mas, foram na minha grande infância que se percebiam os verdadeiros comportamentos mais estranhos.
Eu era uma criança que não se importava da maneira esperada: Adorava ficar sozinho. Não gostava de brincar com os meus irmãos por mais divertidos que eles fossem. Outra razão que eu costumava fazer era ficar na casa da minha avó materna, pois, era enorme e lá eu sempre achava um jeito de me isolar de certa maneira das pessoas. Era considerada a criança mais preguiçosa do planeta ou no mundo que eu me encontrava. Há! Também eu era a criança mais antipática da família, a mais “birrenta” e a “mais chili-quenta”.
Odiava qualquer confraternização familiar e até mesmo a festa de aniversário, que era motivo de muito sofrimento. E para piorar tudo, eu verbalizava tudo o que pensava e quase sempre constrangendo e ofendendo os “amigos” e as pessoas. Considerada uma criança muito “desenvolvida” para a idade, pelo discurso muito precoce.
Lembro certa vez da parte da minha mãe, contando que a professora da primeira série a chamou para contar alguns detalhes negativos que eu colocava as mãos nos ouvidos por causa da conversa dos colegas e que eu não me relacionava com outras pessoas. Então uma coleguinha se aproximou e foi à única que eu tive durante a primeira infância.
Eu também tinha o sono alterado, sofria muito para dormir. Quando eu me encontrava-se um pouco nervosa, dizia para minha mãe que não era deste mundo, que não queria que a minha vida fossem assim, que muitas vezes ouvia os sons como se fossem mais altos pra mim.
Uma vez eu cheguei a comentar que quando a água do chuveiro caía na minha cabeça, o barulho era tão grande que parecia uma multidão de pessoas falando todos ao mesmo tempo no maior tumulto de gritarias entre eles.
Na pré-adolescência eu me enchi de amigos de uma hora para outra, contava segredos pra todo que queria conversar comigo, quando dava a minha opinião sobre tudo. A este raciocínio, eu achava que todas as pessoas eram meus amigos e minhas amigas, não olhava os defeitos e nem tão pouco as maldades de ninguém, porque tinha um comportamento muito infantil, mas, mesmo assim, eu entendia que isso era o meu jeito de “ser boa”, que acreditava nas pessoas, achando que era uma grande virtude nos meus procedimentos.
Também, me lembro de ser obcecada por um dos meus amigos. Eu ficava fascinada e não desgrudava da pessoa até ser rejeitada explicitamente e com isso, eu sofria bastante as consequências da vida.
O tempo foi passando e chegou à adolescência, quando aquele “amadurecimento precoce” foi embora e o processo se inverteu, fiquei “enfatizada”, quando deveria estar consciente dos fatos e amadurecida. A adolescência foi o período onde eu passei a não saber quem eu era de verdade, ser excluída dos grupos onde tentava fazer parte, e meu comportamento sexual e afetivo, era sempre inadequado para os padrões.
E mais uma vez o tempo passou e quando eu completei meus 14 anos de idade, eu fui vítima de todos os tipos de abusos. Em fim, os caos, foi uma realidade durante muito tempo. Depois vieram os relacionamentos amorosos, todos muitos sofridos. Aos 18 anos de idade, comecei a estudar muito e passei no vestibular e quando completei 21 anos de idade, já estava totalmente formado, com meu canudo debaixo do braço.
Aos 24 anos de idade tive meu primeiro filho, eu já solteira, consegui ficar com ele por três anos e meio, mas as dificuldades eram enormes em todos os sentidos. E nesta época, eu sofria de depressão, ansiedade, processo confundido com Bipolaridade e nesta altura, eu só pensava em morrer. Então não consegui e fui embora da cidade deixando o meu precioso filho com a minha família.
 Não era a primeira vez que eu ia embora a busca de ajuda aos meus problemas particulares e íntimos. Nesta última partida, quando deixei meu filho, demorei 6 anos para retornar e foram os seis anos mais complicados, mas foi o começo do fim. Meu filho sempre foi o meu rumo certo, a minha certeza, o meu destino, o meu motivo para continuar tentando sobreviver neste planeta (mundão Zinho), que até hora não entendia e continuo a não entender.
Nestas andanças todas, encontrei origens e refiz contato com meu próprio espírito, que andava recluso e destruído por tanto sofrimento derramado. Depois de todas as turbulências, voltei com a idade da experiência com os meus 34, casada e grávida da minha filha caçula, que para todos é um anjo de bebê, enviado para me tira desta ignorância toda, desta falta de chão que sempre foi a minha vida!
Um dia quando me comprometi a fazer todos os exames necessários e sérios, foi quando recebi o diagnóstico de ser autista, que foi o que mudou na minha vida e para a minha família e garanto o que eu posso dizer que foi no ano de 2009 quando eu completei os meus 37 anos de idade.
Com os resultados dos exames, a minha mãe não achava necessário que eu levasse a minha filha, neta dela, ao médico. Ela dizia que o problema que o problema da minha filha era ser igual a mim e eu mesma achava que a “sina” da minha filha era parecer como eu pensava. Quando veio o diagnóstico da minha filha de “autista clássico de alto funcionamento não verbal”, que seria a única diferença comigo, porque eu sou verbal e a minha filha não era, mas, eu tinha consciência que eu era autista.
Uma luz estava no fim do túnel, a minha filha ainda pode adquirir a linguagem verbal e ainda, ela só tem 4 aninhos de idade e as minhas esperanças, são fortes quando a isso.
O que mudou pra mim...? Mudou muitas coisas. Porque eu saí de uma condição de ignorância profunda de “mim mesma”. De certa forma de acreditar, foi um alívio muito grande, um sentimento de ter recebido uma “carta de euforia”, que na verdade, foi ter a oportunidade de ficar livre de qualquer jugo ou domínio, oportunidade e ganhar minha experiência.
O conhecimento da minha condição de autista, não é uma oportunidade de justificar meus “ERROS”, mas sim a oportunidade de tentar se aceita do jeito que eu sou, mas não está sendo muito fácil, porque eu me sinto constrangida, acuada, e ainda não sei lidar comigo mesma.
Pois até hoje eu fui uma pessoas submissa, dependente, escrava da opinião alheia por não me conhecer de enfrentar alguns limites e de não compreender e entender minhas próprias atitudes. Não sei se vou conseguir ser respeitado algum dia, como eu gostaria de ser, mas pelo menos para mim, meu marido, companheiro e meus filhos, foram um alívio!
Hoje aos 38 anos de idade, em pleno século XXI, 2012, criei este Blog para tentar organizar minha cabeça, sair desta confusão mental intensa que me faz ficas prostrada diante da vida sempre pedindo para que tudo acabe logo!

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