DESCOBRI
QUE SOU AUTISTA. ÀS VEZES SOMENTE ESTOU COM A CERTEZA DE QUE NÃO SEREI A MESMA
PESSOA PARA SEMPRE, CREIO EU.
Relatos dedicados a pessoas em
idade adulta que se descobriram ou foram diagnosticadas como portadoras do
Espectro Autista, que também podem ser chamadas de Asperger, autistas de alto
funcionamento, autistas verbais, portadoras de autismo leve, ter sombras ou
traços de autismo, ecos autísticos, mas a realidade é que todos são autistas, o
transtorno continua sendo na comunicação, na socialização e na imaginação... Só
que cada ser humano é um “Universo” então cada um se manifesta do seu jeito.
Como
eu descobri?
Respondendo encima destas perguntas:
Muitas vezes você se sente fora de sincronia como os outros? O seu senso
de humor é diferente da maioria ou é considerado estranho? Você se esquece de
que você está em uma situação social trabalho e/ou sua vida?
Você prefere usar a mesma roupa e/ou comer a mesma comida todos os dias?
Você se incomoda quando as pessoas visitam você sem convite? Já fez alguma coisa
apenas para descobrir depois que esta coisa não era desejada? Você prefere fazer
as coisas sozinhas, mesmo que você disponha da ajuda ou experiência de outros?
Você é tão honesto e sincero que você assume todo mundo também é? Você não tem uma
boa distinção daquilo que é a coisa certa a fazer socialmente? Você não aceita graciosamente
críticas, correções e ordens? Em conversas, você tem problemas com coisas como sincronia
e da reciprocidade? Você tende ser impaciente e/ou impulsivo?
Você tem de interpretá-la as coisas literalmente e/ou responder a perguntas
retóricas? Você tem uma visão alternativa do que é atraente no sexo oposto? Se houver uma interrupção,
você não pode rapidamente voltar ao que estava fazendo antes? Você tem problemas
como início e/ou a finalização de projetos? Já lhe disseram que você tem uma postura
ou modo de andar estranho?
Você acha difícil captar as intenções das pessoas? É mais difícil para você
manter amigos do que para outras pessoas? Você já teve a sensação de jogar um jogo,
fingindo ser como as pessoas à sua volta?
Você já foi intimidado, abusaram ou já tiraram proveito de você? Você acha difícil descobrir
com os e comportarem diferentes situações? Você espera que as outras pessoas conheçam
seus pensamentos, experiências e opiniões, sem que você os tenha dito a elas? Você tem tendência a
dizer coisas que são consideradas socialmente inadequadas?
Você não é bom retornando cortesias sociais e gestos? Você tem interesses
imaturos? Muitas vezes as pessoas entendem mal o que você queria dizer? Você fica muito
cansado após socializar, e depois necessita se regenerar ficando sozinho? Você geralmente
desconhece os limites e regras sociais a menos que lhe sejam claramente enunciados?
Você tende se a procrastinar? Antes de fazer alguma coisa ou irem algum
lugar, você precisa ter em mente um planejamento ou cronograma (do que deve ser
feito) deforma que você possa se preparar mentalmente primeiro? Você não gosta ou
tem dificuldade em esportes de grupo (por exemplo, futebol) ou outras atividades
de grupo?
Você tem algumas rotinas ou manias que você precisa seguir? Você tem
tendência a expressar seus sentimentos de forma que podem deixar os outros perplexos?
Você tende a 'travar' ou ter uma crise nervosa quando estressado ou
sobrecarregado?
Meu nome é Grace Caroline.
Nasci no ano de 1971, em Curitibanos, no Planalto Serrano do Estado de Santa
Catarina, numa pequenina cidade e obviamente muito provinciana. Em 1976, eu já
tinha dois irmãozinhos, uma menina e um menino. Atualmente somos uma família
com muitos irmãos, consideravelmente um número bem grande de histórias de vida
pra contar horas e horas, reunindo todos os presentes. Mas, foram na minha grande
infância que se percebiam os verdadeiros comportamentos mais estranhos.
Eu
era uma criança que não se importava da maneira esperada: Adorava ficar
sozinho. Não gostava de brincar com os meus irmãos por mais divertidos que eles
fossem. Outra razão que eu costumava fazer era ficar na casa da minha avó
materna, pois, era enorme e lá eu sempre achava um jeito de me isolar de certa
maneira das pessoas. Era considerada a criança mais preguiçosa do planeta ou no
mundo que eu me encontrava. Há! Também eu era a criança mais antipática da
família, a mais “birrenta” e a “mais chili-quenta”.
Odiava
qualquer confraternização familiar e até mesmo a festa de aniversário, que era
motivo de muito sofrimento. E para piorar tudo, eu verbalizava tudo o que
pensava e quase sempre constrangendo e ofendendo os “amigos” e as pessoas.
Considerada uma criança muito “desenvolvida” para a idade, pelo discurso muito precoce.
Lembro
certa vez da parte da minha mãe, contando que a professora da primeira série a
chamou para contar alguns detalhes negativos que eu colocava as mãos nos
ouvidos por causa da conversa dos colegas e que eu não me relacionava com
outras pessoas. Então uma coleguinha se aproximou e foi à única que eu tive
durante a primeira infância.
Eu
também tinha o sono alterado, sofria muito para dormir. Quando eu me encontrava-se
um pouco nervosa, dizia para minha mãe que não era deste mundo, que não queria
que a minha vida fossem assim, que muitas vezes ouvia os sons como se fossem
mais altos pra mim.
Uma
vez eu cheguei a comentar que quando a água do chuveiro caía na minha cabeça, o
barulho era tão grande que parecia uma multidão de pessoas falando todos ao
mesmo tempo no maior tumulto de gritarias entre eles.
Na pré-adolescência
eu me enchi de amigos de uma hora para outra, contava segredos pra todo que
queria conversar comigo, quando dava a minha opinião sobre tudo. A este
raciocínio, eu achava que todas as pessoas eram meus amigos e minhas amigas, não
olhava os defeitos e nem tão pouco as maldades de ninguém, porque tinha um
comportamento muito infantil, mas, mesmo assim, eu entendia que isso era o meu
jeito de “ser boa”, que acreditava nas pessoas, achando que era uma grande
virtude nos meus procedimentos.
Também,
me lembro de ser obcecada por um dos meus amigos. Eu ficava fascinada e não desgrudava
da pessoa até ser rejeitada explicitamente e com isso, eu sofria bastante as
consequências da vida.
O
tempo foi passando e chegou à adolescência, quando aquele “amadurecimento
precoce” foi embora e o processo se inverteu, fiquei “enfatizada”, quando
deveria estar consciente dos fatos e amadurecida. A adolescência foi o período
onde eu passei a não saber quem eu era de verdade, ser excluída dos grupos onde
tentava fazer parte, e meu comportamento sexual e afetivo, era sempre
inadequado para os padrões.
E
mais uma vez o tempo passou e quando eu completei meus 14 anos de idade, eu fui
vítima de todos os tipos de abusos. Em fim, os caos, foi uma realidade durante
muito tempo. Depois vieram os relacionamentos amorosos, todos muitos sofridos.
Aos 18 anos de idade, comecei a estudar muito e passei no vestibular e quando
completei 21 anos de idade, já estava totalmente formado, com meu canudo
debaixo do braço.
Aos
24 anos de idade tive meu primeiro filho, eu já solteira, consegui ficar com
ele por três anos e meio, mas as dificuldades eram enormes em todos os
sentidos. E nesta época, eu sofria de depressão, ansiedade, processo confundido
com Bipolaridade e nesta altura, eu só pensava em morrer. Então não consegui e
fui embora da cidade deixando o meu precioso filho com a minha família.
Não era a primeira vez que eu ia embora a
busca de ajuda aos meus problemas particulares e íntimos. Nesta última partida,
quando deixei meu filho, demorei 6 anos para retornar e foram os seis anos mais
complicados, mas foi o começo do fim. Meu filho sempre foi o meu rumo certo, a
minha certeza, o meu destino, o meu motivo para continuar tentando sobreviver
neste planeta (mundão Zinho), que até hora não entendia e continuo a não
entender.
Nestas
andanças todas, encontrei origens e refiz contato com meu próprio espírito, que
andava recluso e destruído por tanto sofrimento derramado. Depois de todas as turbulências,
voltei com a idade da experiência com os meus 34, casada e grávida da minha
filha caçula, que para todos é um anjo de bebê, enviado para me tira desta
ignorância toda, desta falta de chão que sempre foi a minha vida!
Um
dia quando me comprometi a fazer todos os exames necessários e sérios, foi
quando recebi o diagnóstico de ser autista, que foi o que mudou na minha vida e
para a minha família e garanto o que eu posso dizer que foi no ano de 2009
quando eu completei os meus 37 anos de idade.
Com
os resultados dos exames, a minha mãe não achava necessário que eu levasse a
minha filha, neta dela, ao médico. Ela dizia que o problema que o problema da
minha filha era ser igual a mim e eu mesma achava que a “sina” da minha filha
era parecer como eu pensava. Quando veio o diagnóstico da minha filha de “autista
clássico de alto funcionamento não verbal”, que seria a única diferença comigo,
porque eu sou verbal e a minha filha não era, mas, eu tinha consciência que eu
era autista.
Uma
luz estava no fim do túnel, a minha filha ainda pode adquirir a linguagem
verbal e ainda, ela só tem 4 aninhos de idade e as minhas esperanças, são
fortes quando a isso.
O
que mudou pra mim...? Mudou muitas coisas. Porque eu saí de uma condição de
ignorância profunda de “mim mesma”. De certa forma de acreditar, foi um alívio
muito grande, um sentimento de ter recebido uma “carta de euforia”, que na
verdade, foi ter a oportunidade de ficar livre de qualquer jugo ou domínio,
oportunidade e ganhar minha experiência.
O
conhecimento da minha condição de autista, não é uma oportunidade de justificar
meus “ERROS”, mas sim a oportunidade de tentar se aceita do jeito que eu sou,
mas não está sendo muito fácil, porque eu me sinto constrangida, acuada, e
ainda não sei lidar comigo mesma.
Pois
até hoje eu fui uma pessoas submissa, dependente, escrava da opinião alheia por
não me conhecer de enfrentar alguns limites e de não compreender e entender
minhas próprias atitudes. Não sei se vou conseguir ser respeitado algum dia,
como eu gostaria de ser, mas pelo menos para mim, meu marido, companheiro e
meus filhos, foram um alívio!
Hoje
aos 38 anos de idade, em pleno século XXI, 2012, criei este Blog para tentar
organizar minha cabeça, sair desta confusão mental intensa que me faz ficas
prostrada diante da vida sempre pedindo para que tudo acabe logo!
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